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Quintais Culturais - Aula de campo traz vivência na comunidade cuiabana São Gonçalo Beira Rio

Publicado por: Reitoria / 30 de Maio de 2022 às 17:01

Aula de campo com turma do curso de pós-graduação “Estudos e Práticas de Culturas” do campus
Cuiabá Bela Vista possibilita reflexão sobre construção de territorialidades

Estudantes da Especialização “Estudos e Práticas de Culturas”, realizada pelo IFMT Campus Cuiabá Bela Vista, participaram de uma aula de campo com algumas ceramistas e seus quintais, na Comunidade de São Gonçalo Beira Rio, em Cuiabá.

Durante a aula, realizada no sábado (21), os conhecimentos sobre o trabalho com a cerâmica foram compartilhados pelas “filhas de Maria”, as senhoras Cleide Rodrigues de Morais Antunes, 55 anos, Julia Rodrigues da Conceição, 57 e Juraci Marcelina da Conceição, 63.

A senhora Cleide contou a história da cerâmica em sua vida e na de sua família, o processo criativo e como seu próprio quintal inspira suas criações, a fabricação das peças a partir de moldes e a utilização do tauá para a coloração e polimento dos artefatos, que segundo ela, “foi utilizado pelos primeiros habitantes da região, os povos indígenas”.

No quintal da segunda “filha de Maria”, a senhora Júlia já estava com sua bancada de trabalho organizada com os utensílios usados para dar forma às peças, objetos que vão desde pedaços de couro até dosadores de remédios farmacêuticos. Ela relatou seus conhecimentos sobre as composições do barro utilizado, o melhor barro para cada tipo de peça e o uso de outros elementos naturais para ajudar no fabrico das peças de barro, como as cinzas.

Para a senhora Júlia, “moldar o barro estimula vários sentidos, desde a criatividade até a sensibilidade de cada pessoa”. Em seu trabalho o corpo é usado na moldura do barro - as mãos servem como medidas e ferramentas para conferir ao barro as formas desejadas – demonstrando a conexão dela com o ambiente em que vive.

A terceira “filha de Maria”, senhora Juraci, mostrou o forno à base de lenha que ela mesma construiu em seu quintal, os moldes que utiliza, as matrizes que foram confeccionadas por ela e como faz a quebra do barro para sua produção. Ela elabora as figuras a partir do barro, com a temática fruta, em três dias na semana. Nos outros, se dedica a outra atividade comercial da família, na própria comunidade.

Também foi visitada a “Casa dos Artesãos da comunidade São Gonçalo Beira Rio” onde as ceramistas expõem e comercializam seus trabalhos.

Construção de territorialidades

“Antes da aula de campo nos quintais das mulheres ceramistas, a turma teve oportunidade de estudar textos que trabalham as várias dimensões das sensibilidades que construímos ao longo das temporalidades vivenciadas, e sobre a construção de territorialidades”, destacou a professora Itamara Oliveira.

A professora considera que os saberes de suas ancestralidades e as experiências do ofício de ceramistas proporcionam a criatividade e inventividade na seleção de instrumentos para os trabalhos.

Ela cita o uso de um pequeno pedaço de couro de sapato como um eficiente moldador das bordas do barro, pequenos pedaços de plástico que eventualmente iriam para o lixo servem para esculpir, a sacola plástica transparente como um engenho polidor de barro, ou a própria edificação do forno para a queima das peças, assim como as ferramentas para a quebrada do barro.

“A visitação aos quintais proporcionou momentos de interação, de aprendizado e de descoberta dos quintais cuiabanos como pontos de culturas de nossa territorialidade e possibilidades de pesquisas”, avaliou Itamara.

Localizada à beira do Rio Cuiabá, na cidade de Cuiabá, a comunidade São Gonçalo Beira Rio é reconhecida como ponto importante na história da criação do espaço urbano da cidade pelos colonizadores que vieram para cá.

“Percebemos que a presença indígena na comunidade ainda se faz presente, perpassa as atividades das ceramistas e da comunidade como um todo, quer pela utilização da água como meio de transporte, na matéria prima para o trabalho em cerâmica, nos pontos naturais de referências de localização e na organização dos quintais das famílias extensas que lá ainda encontramos”, finalizou a docente.

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