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O auditório do campus Bela Vista do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) teve casa cheia durante as duas apresentações de uma peça teatral que abordou o letramento racial como parte integrante da programação do Fórum Local da Assistência Estudantil.
Na noite de segunda-feira (06), na tarde de terça-feira (07) e na manhã de quarta-feira (08) cerca de 270 estudantes das turmas de Ensino Médio acompanharam a adaptação feita pelo ator André D´Lucca da sua peça Sankofa, que vem sendo apresentada nas escolas de Mato Grosso.
Sankofa, como explicou o ator, é um símbolo africano que significa “retornar e buscar”. Em outras palavras, é um convite a olhar para o passado e resgatar o que realmente importa, como valores e ensinamentos, enquanto avança para o futuro.
Membro da comissão organizadora do evento, a coordenadora de assistência estudantil, inclusão e diversidade do campus, Andreia Iocca pontuou que a realização do Fórum reforça o compromisso com os pilares que sustentam essa política: o respeito à dignidade humana, à diversidade cultural e de gênero, à equidade e à construção de um ambiente escolar inclusivo e acolhedor.
“Nesse contexto, a peça soma-se de forma potente ao debate, ao promover o letramento racial como ferramenta essencial para o reconhecimento da história, da identidade e dos direitos da população negra. A conexão entre o Fórum e a peça fortalece o diálogo sobre os direitos humanos e a urgência de práticas educativas antirracistas no ambiente escolar,” afirmou Andreia.
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Para a professora de filosofia Raquel Martins Fernandes a arte cumpre bem o desafio de trabalhar a conscientização estudantil para o racismo estrutural, um tema insistentemente presente e enraizado em nossa sociedade. Ela incentivou os alunos a tomarem nota dos aspectos mais marcantes da peça, para um posterior debate estruturado sobre as questões étnico-raciais.
“É de fundamental importância [os alunos] poderem vivenciar momentos como este. A peça é um conteúdo de arte e educação, ela tem um objetivo de letramento racial. E a arte é uma linguagem um pouco mais fácil para trabalhar questões muito sérias e graves como o racismo e toda a dívida histórica que temos com a população negra devido à escravidão no Brasil”, refletiu Raquel.
A docente enfatiza que o racismo no Brasil persiste sendo uma violência estrutural e que somente a partir da reflexão é possível “quebrar essas barreiras e começar a trazer à consciência dados, fatos, porque a peça traz resgates históricos de toda a nossa população negra e que nos desperta a todos para essa luta antirracista”.
A professora de Língua Portuguesa Andreza Moraes Lerias, que já havia assistido o espetáculo no teatro, destacou o aspecto da interação na adaptação.
“A adaptação é incrível primeiro pela temática do letramento racial, mas mais ainda por trazer a interação com os estudantes. Porque é muito diferente estar no teatro e no espaço escolar, no espaço educativo. E essa interação com o estudante precisa acontecer mesmo numa peça que é mais didática, onde eles conseguem compreender melhor o que é o racismo nessa sociedade em que estamos inseridos”, ponderou.
Ambas as docentes ressaltaram a atenção, a receptividade e a participação dos estudantes, especialmente após o espetáculo quando o ator respondeu aos questionamentos sobre sua carreira, sua história de vida, lutas e aprendizados. Essas vivências, ele explicou, marcaram a trajetória de construção do espetáculo.
“A gente percebeu que eles estavam atentos em todos os momentos, interagiram com o ator no início da peça, fizeram perguntas interessantes depois. Então, sim, acreditamos que alcançamos o objetivo,” avaliou Raquel.
Pelos relatos da Yasmin Reiners, do 1o semestre do curso de Alimentos e do Yohan Boaventura, do 2o semestre, as percepções das professoras se confirmaram. Yasmin mencionou a força e a liderança da mulher negra enquanto Yohan Boaventura se sentiu representado ao ouvir os relatos da sua cultura e história. “Achei sensacional, uma experiência única ouvir toda essa costura histórica, ainda mais feita por um ator negro.”
Amanhã (10) será a vez dos estudantes do IFMT Cuiabá – Octayde assistirem a apresentação da peça.
Orismeire Zanelato – Jornalista IFMT

